sábado, 19 de março de 2011

A ORIGEM DO MAL


A Queda de Lúcifer
Para muitos estudiosos, a origem do pecado e a razão de sua
existência constituem motivo de grande perplexidade. Vendo a obra
do mal, com seus terríveis resultados de miséria e desolação.
questionam como tudo isso possa existir sob o governo de um Ser
que é infinito em sabedoria, poder e amor. Aqui está um mistério,
para o qual não encontram respostas. E, em sua dúvida e incerteza,
fazem-se cegos às verdades claramente reveladas na Palavra de
Deus e essenciais à salvação. Existem aqueles que, em suas
investigações sobre a existência do pecado, esforçam-se por sondar
escrupulosamente aquilo que Deus nunca revelou; por isso não
encontram solução para suas dificuldades e os que manifestam tal
propensão para dúvida e malícia, valem-se disto como escusa para
rejeitar as palavras da Santa Escritura. Outros, porém, deixam de
possuir uma compreensão satisfatória acerca da origem do mal, pelo
fato de a tradição e a interpretação errônea terem tornado obscuro o
ensino da Bíblia concernente ao caráter de Deus e a natureza de Seu
governo e aos princípios de Seu modo de proceder para com o
pecado.
É impossível explicar a origem do pecado de modo que se dê a
razão de sua existência. Ainda assim bastante se pode compreender
com relação à origem, bem como à disposição final do pecado, para
que se faça inteiramente manifesta a justiça e benevolência de Deus
em todo o Seu trato com o mal. Nada é mais inequivocadamente
ensinado na Escritura do que o fato de que Deus não foi, de maneira
alguma, responsável pelo aparecimento do pecado e que não houve
qualquer retração arbitrária da graça divina, nem qualquer
deficiência no governo divino que ocasionasse o desencadear da
rebelião.
O pecado é um intruso, para cuja presença nenhuma razão
pode ser dada. É misterioso, inexplicável. Desculpá-lo é defendê-lo.
Se fosse possível encontrar para ele uma desculpa, ou apresentar-se
uma justificativa para sua existência, cessaria de ser pecado. Nossa
única definição de pecado é aquela que está escrita na Palavra de
Deus, é: “a incredulidade a Palavra de Deus”, o resultado de um
principio em conflito com a grande lei do amor, que é a base do
governo divino.
Antes do aparecimento do mal, havia paz e regozijo por todo o
Universo. Tudo estava em perfeita harmonia com os desígnios do
Criador, o amor a Deus era supremo, o amor de uns para com os
outros, imparcial. Cristo, o Verbo, o Unigênito de Deus, era um com
o Pai eterno - um em natureza, caráter e propósito - único Ser em
todo o Universo que poderia entrar em todos os conselhos e
propósitos de Deus. Por meio de Cristo, o Pai criou todos os seres
celestes. “NEle foram criadas todas as coisas que há nos Céus...
Sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades.” (Colossenses 1:16). A Cristo o Céu todo dedicava a mesma
lealdade que tinha para com o Pai.
Sendo a lei do amor à base do governo divino, a felicidade de
todos os seres criados dependia de sua perfeita consonância com
seus elevados princípios de justiça. Deus deseja serviço de amor de
todas as Suas criaturas - homenagem que brote de uma apreciação
inteligente de Seu caráter. Não Lhe apraz uma submissão forçada,
mas a todos outorga livre arbítrio para que possam prestar-Lhe
serviço voluntário.
Houve, porém, um ser que preferiu perverter esta liberdade. O
pecado originou-se com aquele que, depois de Cristo, fora o mais
honrado por Deus e o mais elevado em poder e glória entre os
habitantes do Céu. Antes de sua queda, Lúcifer era o primeiro dos
querubins cobridores, santo e incorrupto. “Assim diz o Senhor Deus:
Tu és o selo da perfeição, cheio de sabedoria, e perfeito em
formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; cobrias-te de toda
pedra preciosa. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci;
estavas no monte santo de Deus, andavas entre pedras afogueadas.
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado,
até que se achou iniqüidade em ti.” (Ezequiel 28:12-15).
Lúcifer poderia ter continuado no favor de Deus, amado e
honrado por toda a hoste angélica e exercendo suas nobres
faculdades para abençoar outros e glorificar seu Criador. Mas, diz o
profeta: “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura,
corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor.” Pouco a
pouco, Lúcifer veio a contemporizar com o desejo de exaltação
própria. “Pois que consideras o teu coração como se fora o coração
de Deus.” (Ezequiel 28:6). “E tu dizias no teu coração: ‘Eu subirei ao
Céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte
da congregação me assentarei... Subirei acima das alturas das
nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.” (Isaias 14:13,14). Em vez de
empenhar-se em fazer Deus supremo nas afeições e lealdade de Suas
criaturas, era intenção de Lúcifer conquistar seu serviço e
homenagem para si. E, cobiçando a honra que o infinito Pai
conferira a Seu Filho, este príncipe dos anjos ambicionou o poder
que era prerrogativa somente de Cristo exercer.
Todo o Céu se regozijava ao refletir a glória do Criador e
festejar-Lhe louvor. E, quando Deus era assim honrado, tudo era paz
e satisfação. Uma nota dissonante, porém, destemperava agora as
harmonias celestes. O serviço e a exaltação do eu, contrários ao
plano do Criador, despertavam pressentimentos de mal nas mentes
para as quais a glória de Deus era suprema. Os concílios celestiais
pleitearam com Lúcifer. O Filho de Deus apresentou-lhe a grandeza,
a bondade e justiça do Criador e a sagrada e imutável natureza de
Sua lei. Deus mesmo estabelecera a ordem do Céu e, desviando-se
dela, Lúcifer desonraria seu Criador, acarretando ruína sobre si. Mas
a advertência, dada em infinito amor e misericórdia, tão-somente
provocou apenas um espírito de resistência. Lúcifer permitiu que a
inveja a Cristo prevalecesse e tornou-se mais determinado.
O orgulho de sua própria glória alimentava seu desejo de
supremacia. As grandes honras outorgadas a Lúcifer não eram
apreciadas como um dom de Deus e ele não revelava gratidão para
com o Criador. Ufanava-se em seu resplendor e exaltação e aspirava
ser igual a Deus. Era amado e honrado pela hoste celestial. Os anjos
deleitavam-se em cumprir suas ordens e ele estava vestido de glória
e de sabedoria acima de todos; todavia o Filho de Deus era
reconhecido Soberano do Céu, Um com o Pai em poder e
autoridade. Em todos os conselhos de Deus, Cristo era partícipe,
enquanto a Lúcifer não lhe era permitido assim penetrar nos
propósitos divinos. “Por que”, questionava o poderoso anjo, “deve
Cristo ter a supremacia? Por que é Ele assim honrado acima de
Lúcifer?”
Deixando seu lugar na presença imediata de Deus, Lúcifer saiu
a disseminar o espírito de descontentamento entre os anjos.
Trabalhando em misterioso sigilo e, durante certo tempo, ocultando
seu real propósito sob o simulacro de reverência a Deus, esforçou-se
por incitar a insatisfação em relação às leis que governavam os seres
celestiais, insinuando que elas impunham uma restrição
desnecessária. Uma vez que eram de natureza santa, ele instava para
que os anjos obedecessem os ditames de sua própria vontade.
Alegando que Deus o tratara injustamente quando conferiu honras
supremas a Cristo, procurou atrair simpatia para si mesmo.
Reivindicava que, aspirando o maior poder e honra, não estava
buscando a exaltação própria, mas pretendia assegurar a liberdade de
todos os habitantes do Céu, a fim de, por este meio, alcançar um
estado de existência mais elevado.
Deus, em Sua grande misericórdia, tolerou a Lúcifer
Longamente. Ele não foi imediatamente degradado de sua posição
exaltada, assim que condescendeu com o espírito de
descontentamento a principio, nem mesmo quando começou a
apresentar suas falsas alegações diante dos anjos leais. Por longo
tempo foi conservado no Céu. Repetidas vezes foi-lhe oferecido
perdão condicionado a arrependimento e submissão. Esforços que
somente o infinito amor e a infinita sabedoria poderiam elaborar,
foram levados a efeito para convencê-lo de seu erro. O espírito de
descontentamento nunca dantes fora conhecido no Céu. O próprio
Lúcifer, a princípio, não via para onde se estava encaminhando; não
entendia a real natureza de seus sentimentos. Mas, ao ser provado
que seu descontentamento era sem causa, Lúcifer se convenceu de
estar errado, de serem justas as reivindicações divinas e que deveria
reconhecê-las como tais diante de todo o Céu.
Houvesse feito isso e poderia ter salvo a si mesmo e a muitos
anjos. Ele não havia, ainda neste tempo, abandonado completamente
sua lealdade a Deus. Embora houvesse perdido a posição de
querubim cobridor, se tivesse desejado retornar a Deus,
reconhecendo a sabedoria do Criador e se contentasse em preencher
o lugar a ele designado no grande plano de Deus, teria sido
reintegrado em seu ofício. Mas o orgulho o impediu de sujeitar-se.
Com persistência defendeu seu próprio procedimento afirmando que
não havia necessidade de arrependimento e empenhou-se
plenamente no grande conflito contra seu Criador.
Todas as faculdades de sua mente magistral foram então
investidas na obra do engano, no intuito de conseguir a simpatia dos
anjos que tinham estado sob o seu comando. Mesmo o fato de Cristo
o haver advertido e aconselhado, foi pervertido para servir a seus
desígnios traidores. Àqueles cuja dedicada confiança os ligava a ele
mais estreitamente Satanás fez parecer que fora julgado
injustamente, que sua posição não tinha sido respeitada e que sua
liberdade estava sendo restringida. Da falsa interpretação das
palavras de Cristo, passou à prevaricação e à falsidade direta,
acusando o filho de Deus de pretender humilhá-lo perante os
habitantes do Céu. Procurou também suscitar uma falsa implicação
entre ele próprio e os anjos leais. A todos os que não pôde
corromper e levar completamente para o seu lado, acusou de
indiferença aos interesses dos seres celestiais, O mesmo trabalho que
ele próprio estava realizando, imputou-o aleivosamente aos que
permaneceram fiéis a Deus. E para sustentar sua acusação de
injustiça divina para com ele, recorreu à falsa interpretação das
palavras e atos do Criador. Era seu plano de ação desorientar os
anjos com sutis argumentos acerca dos propósitos de Deus. Tudo
que era simples ele envolveu em mistério e, por meio de engenhosa
perversão, lançou dúvidas às mais claras afirmações de JEOVÁ. Sua
elevada posição, em tão intimo vinculo com a administração divina,
conferia maior força aos seus pretextos e muitos eram induzidos a
unir-se a ele em rebelião contra a autoridade do Céu.
Deus, em Sua sabedoria, permitiu a Satanás prosseguir com
sua obra, até que o espírito de inimizade amadurecesse em ativa
revolta. Era necessário que seus planos se desenvolvessem
plenamente, para que sua verdadeira natureza e tendência pudessem
ser vistas por todos. Lúcifer, como querubim ungido, fora
sobremodo exaltado, era grandemente amado pelos seres celestiais e
sua influência sobre eles era poderosa. O governo de Deus não
abrangia somente os habitantes do Céu, mas de todos os mundos
criados por Ele. E Satanás pensou que, pude-se levar os anjos do
Céu consigo em rebelião, também poderia seduzir os outros mundos.
Astuciosamente apresentara ele o seu lado da questão, empregando
sofismas e fraudes para alcançar seus objetivos. Seu poder para
enganar era muito grande e, disfarçando-se sob o manto da
falsidade, obtivera vantagem. Mesmo os anjos leais não conseguiam
distinguir de maneira perfeita seu caráter, ou ver com que finalidade
se conduzia sua obra.
Satanás fora altamente honrado e todos os seus atos eram tão
envoltos em mistério que difícil era revelar aos anjos a verdadeira
natureza de sua obra. Até desenvolver-se completamente, o pecado
não parecia ser o mal que era. Até então não se manifestara no
Universo de Deus e os seres santos não possuíam qualquer
concepção de sua natureza e malignidade. Não eram capazes de
discernir as terríveis conseqüências que resultariam de se prescindir
da lei divina. A principio, Satanás camuflava sua obra sob uma
astuciosa profissão de lealdade a Deus. Alegava estar procurando
promover a honra de Deus, a estabilidade de Seu governo e o bem
de todos os habitantes do Céu. Enquanto inculcava o dissabor nos
espíritos angélicos a ele subordinados, astutamente parecia estar
procurando removê-lo. Quando instava para que se efetuassem
mudanças na ordem e nas leis do governo de Deus, era com a escusa
de que eram necessárias para preservar a harmonia celeste.
Em seu trato para com o pecado, a Deus somente tocava
empregar a justiça e a verdade. Satanás podia usar aquilo que Deus
não usaria - lisonja e engano. Procurara falsificar a Palavra de Deus
e representara falsamente seu plano de governo perante os anjos, sob
a alegação de que Deus não era justo ao instituir leis e preceitos para
os habitantes do Céu, que ao requerer submissão e obediência de
Suas criaturas, meramente buscava exaltação própria. Necessitavase,
portanto, de ser demonstrado perante os habitantes do Céu, bem
como perante a todos os mundos, que o governo de Deus é justo e
Sua lei perfeita. Satanás fizera parecer que buscava promover o bem
do Universo, o verdadeiro caráter do usurpador e seu real objetivo
precisavam ser compreendidos por todos. Era-lhe necessário tempo
para que se manifestasse por meio de suas obras iníquas.
A discórdia que seu próprio modo de proceder havia causado
no Céu, Satanás atribuiu-a à lei e ao governo de Deus. Todo o mal
disse ele ser resultado da administração divina. Alegou que seu
próprio objetivo era aperfeiçoar os estatutos de JEOVÁ. Era
necessário, portanto, que demonstrasse a natureza de suas
reivindicações e apresentasse o resultado de suas propostas
mudanças na divina lei. Sua própria obra deveria condená-lo.
Satanás, desde o princípio, pretendeu não estar em rebelião. O
Universo inteiro deveria ver o enganador desmascarado.
Mesmo ao ser decidido que Satanás não poderia mais
permanecer no Céu, a infinita Sabedoria não o destruiu. Haja vista
que apenas o serviço por amor pode ser aceitável para Deus, importa
que a submissão de Suas criaturas se apóiem na convicção de justiça
e benevolência. Por não estarem preparados para compreender a
natureza ou as conseqüências do pecado, os habitantes do Céu e de
outros mundos não poderiam então ter visto a justiça e misericórdia
de Deus na destruição de Satanás. Houvesse ele sido imediatamente
aniquilado e teriam servido a Deus antes por medo do que por amor.
A Influência do enganador não teria sido extirpada por inteiro, nem
o espírito de rebelião erradicado por completo. Era mister permitir
que o mal viesse a amadurecer. Para o bem de todo o Universo,
através dos séculos ininterruptos, devia Satanás desenvolver mais
completamente seus princípios, a fim de que suas acusações contra o
governo divino pudessem ser vistas em sua verdadeira luz por todos
os seres criados, para que a justiça, a misericórdia de Deus e a
imutabilidade de Sua lei, para sempre pudessem ser colocadas acima
de qualquer dúvida.
A rebelião de Satanás haveria de constituir-se uma lição para o
Universo através dos séculos vindouros, um testemunho perpétuo da
natureza e terríveis resultados do pecado. A conseqüência do
governo de Satanás, seus efeitos tanto sobre os homens como sobre
os anjos, mostrada qual é o fruto de se rejeitar a autoridade divina.
Testificada que da existência do governo de Deus e Sua lei depende
o bem-estar de todas as criaturas que Ele fez. Desta forma, a história
desta terrível experiência de rebelião deveria ser perpétua
salvaguarda a todas as santas inteligências, precavendo-as de serem
enganadas quanto à natureza da transgressão, livrando-as de cometer
pecado e sofrer seu castigo.
Mesmo até o final da controvérsia no Céu, o grande usurpador
continuou a justificar-se. Quando foi anunciado que ele, juntamente
com todos os seus simpatizantes, deveriam ser expulsos das moradas
de bem-aventuranças, o líder rebelde ousadamente confessou seu
menosprezo pela lei do Criador.
Renovou sua pretensão de que os anjos não necessitam de ser
comandados, mas que deveriam ser deixados a seguir sua própria
vontade, que sempre os guiaria corretamente. Acusou os estatutos
divinos de restringirem sua liberdade e declarou ser seu propósito
conseguir a abolição da lei, e que, livres de restrições, as hostes
celestes poderiam ingressar em mais exaltada e mais gloriosa
condição de existência.
De comum acordo, Satanás e sua hoste atiraram a culpa de sua
rebelião inteiramente sobre Cristo, afirmando que, se não tivessem
sido reprovados, jamais se teriam rebelado. Assim, recalcitrantes e
insolentes, em sua deslealdade, buscando em vão subverter o
governo de Deus, embora pretendendo de modo blasfemo, serem
vítimas inocentes do poder opressivo, o arqui-rebelde e todos os
seus sectários foram por fim proscritos do Céu.
O mesmo espírito que motivou a rebelião no Céu ainda inspira
a rebelião na Terra. Satanás persiste em usar com os homens a
mesma tática que adotou contra os anjos. Seu espírito agora impera
sobre os filhos da desobediência que, com ele, procuram invalidar as
restrições da lei de Deus e prometem aos homens liberdade por meio
da transgressão dos Seus preceitos. A reprovação do pecado ainda
suscita o espírito de ódio e resistência. Quando as divinas
mensagens de advertência são introduzidas na consciência, Satanás
leva os homens a justificar-se e a granjear a simpatia de outros em
seu caminho de pecado. Em lugar de corrigirem seus erros, enchemse
de indignação contra o reprovador, como se fosse ele a causa
exclusiva da dificuldade. Desde os dias do justo Abel até nosso
tempo, este é o espírito que tem sido patenteado para com aqueles
que ousam condenar o pecado.
Mediante a mesma representação fraudulenta do caráter de
Deus que ele expusera no Céu, fazendo-O parecer severo e tirano,
Satanás induziu o homem a pecar. E conseguindo até aí êxito
notável, declarou que as injustas restrições de Deus haviam
ocasionado tanto a queda do homem como sua própria rebelião.
Mas o próprio Eterno proclama Seu caráter: “Jeová! Jeová!
Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-Se e grande em
benevolência e verdade, que usa de beneficência com milhares, que
perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, que de maneira
alguma terá por inocente o culpado, que visita a iniqüidade dos pais
sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta
geração.” (Levítico 34:6,7).
Ao expulsar Satanás do Céu, Deus manifestou Sua justiça e
defendeu a honra do Seu trono. Quando, porém, o homem pecou,
por tér-se rendido aos enganos do espírito apóstata, Deus apresentou
uma prova de Seu amor, ao dar Seu filho Unigênito para morrer em
prol da raça caída. Na expiação revela-se o caráter de Deus. O
poderoso argumento da cruz demonstra a todo o Universo que o
trilho do pecado, o que Lúcifer escolheu, de maneira alguma poderia
ser da responsabilidade do governo divino.
Na contenda entre Cristo e Satanás, durante o ministério
terrestre do Salvador, o caráter do grande mentiroso foi
desmascarado.
Nada poderia ter tão eficientemente extirpado Satanás das
afeições dos anjos celestes e de todo o Universo fiel, como fe-lo a
sua cruel campanha contra o Redentor do mundo. A insolente
blasfêmia de pretender que Cristo lhe prestasse homenagem, seu
presunçoso atrevimento em transportá-lO ao cume do monte e ao
pináculo do templo, o maldoso intento evidenciado ao insistir com
Ele para que Se precipitasse da vertiginosa altura, o maléfico intuito
com que O perseguia de um lugar para o outro, inspirando o coração
de sacerdotes e do povo a rejeitarem Seu amor e, por fim, a
clamarem: “Crucifica-O! Crucifica-O!” - tudo isto despertou o
estarrecimento e a indignação do Universo.
Foi Satanás que promoveu a rejeição de Cristo pelo mundo. O
príncipe do mal pôs em prática todo o seu poder e astúcia para
destruir a Jesus, pois viu que a misericórdia e o amor do Salvador,
Sua compaixão e meiga doçura estavam representando ao mundo o
caráter de Deus. Satanás opunha-se a tudo quanto pretendia o Filho
de Deus, empregando os homens como seus agentes, com o
propósito de cumular de sofrimento e agonia a vida do Salvador. O
sofisma e a falsidade pelos quais buscava embaraçar a obra de Jesus,
o ódio manifesto através dos filhos da desobediência, suas cruéis
acusações contra Aquele cuja vida era de bondade inigualável, tudo
advinha de uma vingança profundamente enraizada. Os reprimidos
fogos da inveja e maldade, ódio e vingança, irromperam no Calvário
contra o Filho de Deus, enquanto o Céu inteiro contemplava a cena
em silente horror.
Tendo sido consumado o grande sacrifício, Cristo ascendeu ao
Céu recusando adoração dos anjos, até apresentar a petição: “Pai,
desejo que onde Eu estou, estejam comigo também aqueles que Me
tens dado para verem a Minha glória a qual Me deste, pois que Me
amaste antes da fundação do mundo.” (João 17:24). Então, com
inefável amor e poder, veio a resposta do trono do Pai: “E todos os
anjos de Deus O adorem,” (Hebreus 1:6). Mácula alguma pousava
sobre Jesus. Sua humilhação findara, Seu sacrifício fora completo,
fora-Lhe conferido um nome que é acima de todo o nome.
Agora o crime de Satanás não tinha mais escusa. Ele
manifestara seu verdadeiro caráter como mentiroso e homicida.
Compreendeu-se que o mesmíssimo espírito com que
governava os filhos dos homens, que estiveram sob seu poder, teria
sido por ele revelado caso lhe fosse permitido dominar os habitantes
do Céu. Alegara que a transgressão da lei de Deus ofereceria
liberdade e exaltação. Verificou-se, porém, que resultava em
subserviência e degradação.
As pérfidas acusações de Satanás contra o caráter e governo
divinos, apresentaram-se em sua verdadeira luz. Acusara a Deus de
procurar meramente a exaltação própria, requerendo submissão e
obediência de Suas criaturas e declarara que, enquanto o Criador
exigia abnegação de todos os outros, Ele mesmo não a praticava.
Nem fazia qualquer sacrifício.
Compreendeu-se agora que, para a salvação de uma raça
decaída e pecadora, o Regente do Universo havia feito o maior
sacrifício que o amor poderia efetuar, pois que “Deus estava em
Cristo reconciliando Consigo o mundo.” (2 Corintios 5:19).
Compreendeu-se também que, enquanto Lúcifer abrira a porta para a
existência do pecado, pelo seu desejo de honra e supremacia, Cristo,
a fim de aniquilar o pecado, humilhou-Se e fez-Se obediente até a
morte.
Deus manifestará Sua repulsa aos princípios de rebelião. Todo o Céu
viu Sua justiça revelada, tanto na condenação de Satanás como na
redenção do homem. Lúcifer declarara que, se a lei de Deus fosse
imutável e sua punição não pudesse ser removida, todo o
transgressor deveria ser para sempre excluído do favor divino.
Arrazoara que a raça pecadora havia se colocado fora dos limites da
redenção e, portanto, era sua presa por direito. Contudo a morte de
Cristo era um argumento irrefutável em prol da humanidade. A pena
da lei incidiu sobre Aquele que era igual a Deus, ficando livre o
homem para aceitar a justiça de Cristo e, mediante uma vida de
arrependimento e humilhação, triunfar como triunfou o Filho de
Deus, sobre o poder de Satanás. Assim, Deus é justo e justificador
de todos os que crêem em Jesus.
Porém não foi simplesmente para realizar a redenção do
homem que Cristo veio à Terra sofrer e morrer. Ele veio para:
“engrandecer a lei e torná-la gloriosa.” Não somente para que os
habitantes deste mundo pudessem aceitar a lei como esta deveria ser
apreciada, mas para demonstrar a todos os mundos do Universo que
a lei de Deus é imutável. Pudessem suas exigências ser
desconsideradas e o Filho de Deus não necessitaria então ter
oferecido Sua vida para expiar a transgressão da lei.
A morte de Cristo prova a imutabilidade da lei, e o sacrifício a
que o infinito amor impeliu o Pai e o Filho, para que pecadores
possam ser redimidos, demonstra a todo o Universo e nada menos
que este piano de expiação teria sido suficiente para fazer, que a
justiça e a misericórdia são o fundamento da lei e do governo de
Deus.
Na execução final do juízo, ver-se-á que nenhum motivo existe
para o pecado. Quando o Juiz de toda a Terra interpelar a Satanás:
“Por que te insurgiste contra Mim e roubaste os súditos do Meu
reino?”, o originador do mal não poderá apresentar desculpa alguma.
Toda boca fechar-se-á e todas as hostes da rebelião estarão mudas.
A cruz do Calvário, enquanto demonstra que a lei é imutável,
proclama ao Universo que o salário do pecado é a morte. No
agonizante brado do Salvador, “Está consumado!”, soou a sentença
de morte de Satanás. O grande conflito que durante tanto tempo
estivera em marcha está então resolvido e comprovou-se a
erradicação do mal. “O Filho de Deus transpôs os portais do túmulo
a fim de que, pela morte, derrotasse aquele que tinha o poder da
morte, isto é, o diabo.” (Hebreus 2:14). O desejo de exaltação própria
de Lúcifer, impelia-o a dizer; “acima das estrelas de Deus, exaltarei
o meu trono,... serei semelhante ao Altíssimo.” (Isaias 14:13, 14). Deus
declara: “E te tornei em cinzas sobre a Terra,... e nunca mais serás
para sempre.” (Ezequiel 28:18,19). Quando vier aquele dia “ardendo
como fornalha todos os soberbos e todos os que cometem impiedade
serão como restolhos e o dia que está para vir os abrasará, diz o
Senhor dos exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem
ramo.” (Malaquias 4:1).
O Universo inteiro terá testemunhado a natureza e resultados
do pecado. E seu absoluto extermínio, que no princípio teria trazido
temor aos anjos e desonra a Deus, agora vindicará o Seu amor e
estabelecerá Sua honra perante o universo de seres que se
comprazem em fazer a Sua vontade e em cujo coração se encontra
Sua lei. Nunca mais o mal se manifestará novamente. Assevera a
Palavra de Deus: “Não se levantará por duas vezes a angústia.”
(Naum 1:9). A lei de Deus, que Satanás exprobara como jugo de
servidão, será honrada como a lei da liberdade. Uma criação
submetida a teste e prova, jamais se desencaminhara novamente da
lealdade Aquele cujo caráter foi plenamente manifesto perante eles,
como sendo de insondável amor e infinita sabedoria.

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